O Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, foi marcado em Viamão (RS) por duas atividades que visaram à reflexão e à mobilização em defesa da natureza e contra diversas ameaças socioambientais que, segundo os participantes, afetam a cidade e a região.
Os eventos reuniram ativistas, membros de entidades comunitárias, estudantes, professores e representantes de povos tradicionais: um ato público organizado pelo Movimento Não ao Lixão na escadaria da Igreja Matriz do município e outro encontro na Escola Estadual Setembrina, promovido pela Associação Lago Tarumã (Alta).
Os atos no município se inserem no calendário cada vez mais relevante do Dia Mundial do Meio Ambiente e buscaram evidenciar a importância da luta e do fortalecimento das mobilizações populares para a garantia de direitos e a preservação do planeta.

Ato público na Igreja Matriz
O Movimento Não ao Lixão organizou um ato na praça da Igreja Matriz, transformando a escadaria em palco e as paredes do templo em tela para projeções. O evento celebrou os 6 anos e meio de luta do movimento e abordou não apenas a oposição à instalação do aterro sanitário, mas também outras ameaças socioambientais que impactam Viamão.
As projeções nas paredes incluíram palavras e expressões como “racismo ambiental”, “PL da devastação”, “Não ao Lixão”, “Pela vida”, “Sim à Natureza”, “Direito dos Indígenas”, e “Direito dos Quilombolas”. O evento contou com apresentações artísticas, incluindo música, serrote musical e poesia. Houve um momento de silêncio em homenagem a Luana, uma criança Mbya Guarani da comunidade do Cantagalo que faleceu, o que, segundo relato, fez com que a comunidade indígena não estivesse presente no ato em razão do luto.

Representantes de diversas entidades e coletivos presentes destacaram a importância da mobilização. Para Sônia Saraiva, ativista do Movimento Não ao Lixão, só se mobilizando a população consegue algumas vitórias. “Vejo a importância da participação de cada pessoa nesses movimentos. O planeta é de todos, mas apenas alguns conseguem participar. E a nossa intenção é mais adesões, que mais pessoas participem.”
Maximiliano José Limbar, também do Movimento Não ao Lixão, acredita que os ativistas têm que marcar posição em todas as oportunidades: “Nós estamos na semana do meio ambiente e Viamão tem que acordar para essa questão ambiental”.
A juventude também marcou presença no ato. Gustavo Spader, estudante do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), campus de Viamão, considera o projeto do aterro sanitário uma verdadeira catástrofe ambiental para a região. “Este encontro é uma forma de um chamado para nós que estamos na luta contra o projeto que não apenas prejudica os recursos hídricos e o solo, mas também pode ser considerado um ato racista e elitista de querer colocar lixo na periferia rural.”
Ana Carolina, também estudante de Gestão Ambiental do IFRS Viamão, clamou para que os moradores locais pesquisem sobre os impactos que este projeto pode gerar. “Viamão é a cidade das águas. E a gente tem que entender isso. Os nossos filhos, os nossos netos podem e vão sofrer se esse aterro, vulgo lixão, for implementado na nossa cidade.”
O ato na igreja também marcou o lançamento de uma Carta Manifesto que, no dia do evento, já contava com cerca de 30 s de entidades.
Encontro “Caminhos para a Preservação Ambiental” na Escola Setembrina
Após o ato na Igreja Matriz, a Associação Civil Lago Tarumã (Alta) realizou um encontro na Escola Estadual Setembrina. A iniciativa, que teve como anfitrião o diretor da escola, Edmilson Roesler, contou com o “Caminhos para a preservação socioambiental”, com representantes de diversas áreas.
Entre os temas abordados estiveram a importância da educação ambiental, a perspectiva dos povos tradicionais sobre a natureza, o papel do funcionalismo público na fiscalização e preservação, a realidade enfrentada por comunidades impactadas por obras de infraestrutura e ausência de políticas públicas.
Roesler abriu o pontuando que não podemos deixar a educação ambiental apenas para a ciência: “Toda a educação tem que trabalhar a questão ambiental no aspecto transversal”.

Babalorixá Filó, autoridade de matriz africana do povo Gêge, defendeu a utilização das áreas naturais e públicas pelos povos tradicionais da região. “Povos tradicionais são povos que se relacionam diretamente com a natureza, que entendem a natureza como sagrada. A destruição de qualquer ambiente natural é também a destruição de si próprio. E estes povos muitas vezes são desconsiderados ou mesmo não respeitados. E aí a gente vai falar de uma forma de racismo, que a gente chama de racismo ambiental, que é o racismo que justamente afeta aqueles povos que vivem na natureza.”
A secretária-geral do Sindicato dos Municipais de Viamão (Sinda), Deise Killes, ressaltou a importância da atuação dos servidores públicos. “O funcionarismo público municipal desempenha um papel importante na implementação da fiscalização, principalmente de áreas de proteção ao meio ambiente.”
O presidente da Associação Lago Tarumã (Alta), Lisandro Mota, ao final do encontro, destacou os objetivos da atividade e os desafios enfrentados pela comunidade local. “No encontro de hoje procuramos trazer para a comunidade escolar e à sociedade de Viamão lideranças que atuam nas mais variadas frentes em defesa do meio ambiente na cidade, suas experiências vivenciadas no atual modelo desenvolvimentista perverso e autoritário implementado na cidade pelos últimos governos.”
Também citou a exposição pela Alta do laudo biológico atualizado do Lago Tarumã com as consequências em seu ecossistema após a implementação do Parque. “Ressaltamos que em nenhum momento os moradores do entorno foram ouvidos, mesmo com a ativa atuação da entidade desde o início do projeto e das obras, diga-se de agem, inacabadas.”
Carta manifesto será entregue ao poder público
A Carta Manifesto lançada no ato da igreja, onde são listados os principais problemas socioambientais da cidade, será entregue aos poderes públicos. Também foi proposta a criação de uma frente socioambiental em Viamão, uma articulação que vem sendo buscada há tempos.
Os participantes reafirmaram o compromisso de manter a luta e a resistência contra as diversas ameaças, incluindo a instalação do aterro sanitário, a expansão desmedida de condomínios e o risco de contaminação das águas subterrâneas. A união e a participação popular foram apontadas como fundamentais para alcançar vitórias e barrar o que foi descrito como retrocessos e projetos equivocados.
A mobilização no Dia Mundial do Meio Ambiente em Viamão reforçou a posição de que a luta contínua é essencial para defender os direitos da natureza e das comunidades que dela dependem, buscando construir alternativas sustentáveis para o município.
