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‘A Procura de Martina’: filme analisa ditaduras do Brasil e da Argentina sob olhar de Avó de Maio com Alzheimer

Com elenco principal feminino, longa leva às telas uma corrida contra o tempo para preservação da memória

Nesta quinta-feira (5), a diretora brasileira Márcia Faria estreia seu primeiro longa-metragem nas salas comerciais brasileiras. O premiado A Procura de Martina reúne um elenco essencialmente feminino para contar a história de uma avó da Praça de Maio que viaja da Argentina ao Brasil em busca do neto sequestrado durante a ditadura militar no país vizinho.

Em entrevista ao podcast Conversa Bem Viver desta quarta-feira (4), Márcia Faria classifica a obra como uma reflexão sobre memória e resistência. A protagonista, Martina, interpretada pela renomada atriz argentina Mercedes Morán, encara a jornada de busca ao mesmo tempo em que começa a viver as consequências do Alzheimer.

“Me pareceu uma metáfora muito importante que essa mulher, que está buscando seu neto para contar a ele quem ele é, esteja perdendo a memória. Isso tem uma dimensão coletiva com as histórias das ditaduras do Brasil e da Argentina e de como cada país lidou ou não lidou com isso, com o processo de justiça e memória que foi feito lá e não foi feito aqui”, afirma ela.

O longa foi lançado na Argentina no dia 29 de maio com uma recepção calorosa e uma percepção da importância da temática que dialoga com o momento de governo conservador no país. “Eu recebi mensagens lindas de pessoas muito comovidas e agradecidas pelo filme. Pessoas que falam que não haveria condições de fazer um filme assim na Argentina agora, então é muito importante que ele esteja aqui agora”, aponta a diretora.

Na conversa, ela também fala sobre a necessidade de revisão sobre a ditadura em meio a ascensão de movimentos de extrema direita. “É necessário rever isso de alguma maneira, porque isso vive voltando. Acabamos de ter o 8 de janeiro e claro que isso é uma consequência do que não revimos do nosso ado. Não à toa os diretores estão voltando seus olhares para a ditadura militar depois de quatro anos de um governo de extrema direita. Não é uma coincidência, é uma necessidade de se falar disso novamente.”

A Procura de Martina foi premiado como Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema do Uruguai e no Festival de Mar del Plata na Argentina.

Confira a entrevista a seguir.

O filme estreou na Argentina no dia 29 de maio. Como foi a recepção por lá?

O filme estreou no dia 29, mas teve uma sessão no dia 27 no Cinema Gaumont, dentro do ciclo Cine Núcleo. É um cinema grande, de 500 cadeiras e que estava praticamente cheio. Isso me deu uma alegria imensa, porque foi a primeira vez que o público argentino assistiu ao filme.

Depois da sessão, muita gente emocionada com o filme veio falar comigo. Foi uma recepção linda, muito calorosa e as críticas que têm saído estão muito boas. Não podia esperar melhor, está realmente incrível.

Poderia falar um pouco mais sobre sua ligação com essa história e por que resolveu dirigir o filme, considerando que, embora a trama se e na Argentina, ela aborda questões muito comuns também ao Brasil, que também ou por uma ditadura?

A história fala sobre memória e resistência, principalmente. A personagem Martina é atravessada por uma fragilidade, mas também por uma força muito grande. Isso a Mercedes Morán consegue transmitir na interpretação dela de maneira brilhante, que ao mesmo tempo em que a personagem tinha tudo para ficar em casa, quando é diagnosticada com Alzheimer, ela se lança em um novo país, com uma nova língua, com uma força e uma pulsão de vida muito grande.

Desde o princípio, eu e a roteirista, Gabriela Amaral Almeida, queríamos que a protagonista, apesar de todas as dores e perdas, tivesse uma força vital muito grande também. Isso compõe a narrativa do filme com os outros personagens, que são amigas e compõem uma rede de afeto importante. A história, por si só, já é muito comovente, com as Avós da Praça de Maio que usavam lenços como símbolo das fraldas de seus filhos desaparecidos e os netos sequestrados.

Me pareceu uma analogia, uma metáfora muito importante que essa mulher, que está buscando seu neto para contar a ele quem ele é, esteja perdendo a memória. Isso tem uma dimensão coletiva com as histórias das ditaduras do Brasil e da Argentina e de como cada país lidou ou não lidou com isso, com o processo de justiça e memória que foi feito lá e não foi feito aqui.

Por outro lado, logo que comecei a escrever o roteiro, minha mãe começou a ter Alzheimer, e eu a acompanho nessa luta há mais de dez anos. Isso permeou o roteiro, levando muito da minha experiência pessoal. Então o filme foi tomando uma dimensão pessoal profunda para mim e, ao mesmo tempo, uma dimensão coletiva, de precisarmos rever a ditadura no Brasil à luz da extrema direita que está sempre com a sombra à volta do governo.

Quanto da história é ficção e quanto é baseado em fatos reais?

É 100% ficção. Claro que ele se baseia na história das Avós da Praça de Maio e nos depoimentos delas. Mas não existe nenhum caso até hoje de uma avó que tenha vindo buscar seu neto no Brasil ou que tenha aparecido um neto no Brasil. O que não significa que não possa haver, pois ainda há mais de 300 netos desaparecidos.

Mas sabemos que havia a Operação Condor e uma ligação entre as ditaduras de toda a América Latina. Inclusive, o filme é uma coprodução Brasil e Uruguai e filmamos na Argentina, com locações na Argentina e no Brasil, e atrizes argentinas. A história é bastante argentina, mas, para falar a verdade, eu acho a história muito latino-americana. Eu sempre pensei que gostaria que esse filme tivesse sido uma produção latino-americana em sua amplitude, com coprodutores chilenos e argentinos, por exemplo. Porque é disso que estamos falando.

Sua decisão de ambientar a história no Brasil, mesmo sem registros oficiais de bebês sequestrados que tenham vindo para cá, foi um gesto para estreitar os laços e mostrar as nossas relações?

A mim me encanta o tema do deslocamento, da pessoa que sai do seu lugar de conforto e enfrenta uma nova realidade, e a Martina vem para o Brasil. Existe essa frase batida de que o Brasil é um país sem memória, mas ela é um pouco verdade. Então, a ideia de que essa protagonista, que está perdendo a sua memória, precisa vir ao Brasil para contar a seu neto quem ele é, criando uma corrida contra o tempo, me pareceu uma boa metáfora para falar dos problemas que vivemos aqui com o nosso apagamento e esquecimento de tudo que o Brasil ou.

Acho que é necessário rever isso de alguma maneira, porque isso vive voltando. Acabamos de ter o 8 de janeiro e claro que isso é uma consequência do que não revimos do nosso ado. Não à toa os diretores estão voltando seus olhares para a ditadura militar novamente, tivemos o Ainda Estou Aqui e o Agente Secreto depois de quatro anos de um governo de extrema direita. Não é uma coincidência, é uma necessidade de se falar disso novamente.

Me deu a impressão de que o filme reverbera na Argentina – em meio ao governo de Javier Milei – de maneira parecida com o impacto de Bacurau no Brasil, na ascensão de Jair Bolsonaro (PL). Te parece que o filme chega como um sopro de esperança do que se precisa falar?

Eu recebi mensagens lindas de pessoas muito comovidas e agradecidas pelo filme. Pessoas que falam que não haveria condições de fazer um filme assim na Argentina agora, então é muito importante que ele esteja aqui agora. Fico muito feliz em ouvir que as pessoas saem do cinema com o filme reverberando, que voltam, me mandam mensagem e querem conversar sobre o filme depois de assisti-lo. Isso eu acho lindo no filme.

Uma das grandes sortes que eu tive foi ter um elenco maravilhoso. São atrizes de uma entrega e de uma profundidade que vale a pena ir ao cinema para vê-las. Elas são uma aula de cinema, te fazem rir, te fazem chorar. É incrível o que elas fazem.

O elenco principal é predominantemente feminino. Isso foi intencional?

Temos o Fernando Eiras, que faz uma participação muito especial como marido falecido. Mas realmente, pensamos no protagonismo e nessa rede de cuidado feminino. Acho importante ter uma protagonista feminina e quatro mulheres acima de 60 anos que levam o filme, até porque temos atrizes incríveis.

A Martina é um personagem muito difícil de fazer. Interpretar uma pessoa com Alzheimer, no estágio da doença em que ela tem um rasgo de lucidez, ela mente para as amigas que está lúcida, são muitas camadas e sutilezas de interpretação, que a Mercedes deu um show e conseguiu trazer uma profundidade e uma dimensão que eu só agradeço.

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